É um Teatro descolonizador. Cláudia Simone
Escrevivência Preta Cênica é um teatro descolonizador, onde a mulher negra se faz sujeita conjurando a violência da colonialidade, protagonizando todos os processos criativos. Esse teatro nasce como fruto semente do encontro de Escrevivência e Teatro das Oprimidas, propondo -se ser um teatro descolonizador que conecta as raizes ancestrais originarias no continente africano, as raizes ancestrais nascidas em terras brasis, para encenações de persoangens negras que visam produzir outras imagens, outras narrativas a partir da apropriação dos meios de produção teatral que possam ressignificar a vida do povo negro. É a aposta em uma arte cênica que permite a encenação da descolonização do eu, subvertendo a ordem de silenciamento imposta aos cor/pos e cor/pas negras. Claudia Simone dos Santos Oliveira criadora do conceito Escrevivência Preta Cênica.
Escrevivência: “A Escrevivência pode ser como se o sujeito da escrita estivesse escrevendo a si próprio, sendo ele a realidade ficcional, a própria inventiva de sua escrita, e muitas vezes o é. Mas, ao escrever sobre a si próprio, seu gesto se amplia e, sem sair de si, colhe vidas, histórias do entorno. E, por isso, é uma escrita que não se esgota em si, mas aprofunda, amplia, abarca a história de uma coletividade (EVARISTO, 2020. p.35).
Escrevivência Preta Cênica: pode ser como se a sujeita estivesse em cena, atuando a si própria, sendo ela criadora da personagem da realidade ficcional, a própria personagem de sua dramaturgia – e, muitas vezes, o é. Mas, ao narrar-se em cena, corporalmente, seus gestos se ampliam e, sem sair de si, colhe vidas – personagens, histórias do entorno. Ao atuar, sua história aprofunda, amplia, abarca uma coletividade, a coletividade das mulheres negras, do povo preto. Porque, CORPOoralMENTE, é lá que se encontram suas raízes e são estas raízes que sustentam o nascimento de uma Escrevivência Preta cênica.
Escrevivência Preta Cênica: em sua concepção inicial, se realiza como a atuação de mulheres negras descendentes de mulheres negras escravizadas. Essa atuação se faz como uma ruptura das imagens do passado, em que o corpo-voz das mulheres negras eram silenciadas e CORPOralMENTE tomam o lugar de atuação como espaço de auto-falante (no sentido de falar de si) e alto-falante, no sentido se sermos nós as reguladoras da potência de emissão de nossas vozes.
Escrevivência, da fase da adolescência, escreve Conceição Evaristo: “(…)chegou a fase da adolescência, e hoje penso que se eu não escrevesse e não lesse intensamente nesse período, talvez tivesse adoecido. E falo adoecer no sentido de procurar outras formas de aguentar, de suportar a realidade. O que me salvou de um adoecimento, como quando minha irmã mais velha adoeceu, foi a escrita” (EVARISTO, 2020. p.33).
Escrevivência Preta Cênica: Cheguei à performance quando minha mãe faleceu. A dor foi tão intensa, porque tenho a consciência, por ter acompanhado sua luta pela vida por mais de 30 anos, que ela não se foi porque chegou a hora, mas porque seu relógio de morte foi adiantado em anos por ser mulher negra, semianalfabeta, empregada doméstica e periférica, quanto tantas outras mulheres negras brasileiras. A origem de ME editar foi um processo de me tirar do adoecimento. Eu adoeci, eu fiquei fora do ar; minha subjetividade salvou-me suspendendo a alma no ar. Eu fiquei maluca: assim meu corpo respondeu para aguentar suportar a realidade. A Escrevivência Preta Cênica foi a forma de sair do adoecimento, uma sangria desatada para encontrar outras formas de aguentar a realidade sem sucumbir à patologização do meu sofrimento. A escrita salvou Conceição Evaristo do adoecimento, As Artes Cênicas me tiraram do adoecimento quando eu pensava que não existia mais volta; eu tinha me perdido de mim.
TEATRO DAS OPRIMIDAS
Teatro das Oprimidas é um Teatro Feminista . Bárbara Santos
“O Teatro das Oprimidas é resultado da necessidade de desenvolver produções teatrais, nas quais as mulheres não sejam culpabilizadas pelas violências machistas que enfrentam, e de ampliar a participação de artistas-ativistas como facilitadoras desses processos de produção e do diálogo com o público nas sessões de Teatro Fórum, uma das técnicas mais praticadas do Teatro do Oprimido, método criado por Augusto Boal. Por um lado, o Teatro das Oprimidas aprofunda a perspectiva subjetiva do problema para explicitar a complexidade das personagens e, por outro lado, prioriza a inclusão da estrutura social na encenação, a fim de revelar os mecanismos de opressão que sustentam o sistema patriarcal.” – Bárbara Santos, criadora da metodologia
ESCREVIVÊNCIA
Em sua concepção inicial, se realiza como um ato de escrita das mulheres negras. Conceição Evaristo
“Escrevivência, em sua concepção inicial, se realiza como um ato de escrita das mulheres negras, como uma ação que pretende borrar, desfazer uma imagem do passado, em que o corpo-voz de mulheres negras escravizadas tinha sua potência de emissão também sob o controle dos escravocratas,homens, mulheres e até crianças.”
(Evaristo,2020,p.30)
EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In: Duarte, Constância Lima & Nunes, Isabella Rosaldo (org.). Escrevivência: a escrita de nós – reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo.Rio de Janeiro, Mina Comunicação e Arte, 2020.
TEXTO – SUJEITA
Nasce do conhecimento encarnado.
É um texto que nasce do conhecimento encarnado, vivido no cotidiano, que constrói narrativas a partir da atuação na busca concreta pelo fim de um projeto societário baseado na exploração, no racismo, nas diversas formas de exclusão e manutenção do poder. É texto-sujeita porque busca descrever, a partir de uma trajetória de vida, um processo longo de repensar/ressignificar a noção de lugar das cor/pas negras na cena teatral brasileira, de pessoa negra na sociedade e de mulher negra no mundo,de forma coletiva
AUTO-FALANTE
ALTO-FALANTE
Retomada do controle da própria imagem. Cláudia Simone
AUTO-FALANTE | Falar em primeira pessoa, se auto-narrar, narrando muitas, falar de si, escrever-se, contar-se em diversas linguagens, auto-falar de experiência encarnada para trazer mudanças, ser auto-falante se si, não falada pelos outros.Auto-falante, toma o sentido de retomada do controle da própria imagem.
(Re) tomar o existir.
ALTO – FALANTE | Voz como existência, como volume de vida, volume esse que achamos necessário para se fazer ouvir, exercitando o poder se fazer escutar, para exorcizar a ideia de mulher negra invisível e invisibilizada. (Re) tomar o existir.
DES(ATOS)
Nossa narrativa negra na cena.
É uma forma criar textos dramatúrgicos a partir de uma estética negra feminista nascedora de escrevivências, que buscam a descolonização do eu, uma tentativa de desalienação das invasões do cérebro por ideologias opressoras, para restituição do que nos foi roubado: nossa narrativa negra na cena.
DA OPRESSÃO O QUE ME HABITA
À EXPRESSÃO O QUE ME ATIVA
Percurso Poético Politico destinado às mulheres negras diagnosticadas em psiquiatria, como possibilidade de vivenciar um processo descoloniza(dor), apontando para a ocupação da cena teatral como lugar de criação de novas subjetividades, de políticas de vida e restituições de cenas roubadas. Esse processo curativo dá origem a uma dramaturgia, baseada em escrevivências, em que podemos (re) contar coisas, criar histórias, fomentar espaços de encontros e se ver nesses espaços para construção da poética da cena e nos Editar em cena.
Dramaturgia Negra feminista
Para esse fazer Teatral é uma dramaturgia que acessa subjetividades, que se funda na ferramenta metodológica de escrevivência e do Teatro das Oprimidas para desmantelar heterótipos atribuídos aos cor/pos pretos, sendo palavra, imagem e som que nos possibilita uma multilinguagem para processar a narrativa negra; CORPO – ORAL-MENTE , propondo novas visões , recriando o imaginário sobre nos pretas, pretos e pretes .
estética Negra feminista
É a possibilidade de exercitar a potencia criativa, que nasce da busca constante pela liberdade, promover a ruptura com a imposição de uma estética única, ou seja, a estética do opressor e ocupar o campo das artes, principalmente as artes cênicas, com linguagens artisticas que nascem da ancestralidade, da oralidade, das matrizes e nuances africanas, ancorada no corpo, no gesto, da negritude e principalmente , das mulheres negras.
performatividade Negra feminista
É a possibilidade de exercitar a liberdade expressiva, produzir outras imagens, outras narrativas a partir das múltiplas linguagens artisticas que possam colaborar com cor/pos negros , principalmente das cor/pas negras , na destruição do lugar de matabilidade onde nossos corpos estão situados pela branquidade e tomar o lugar de potência de vida que nos pertence.